Estamos no final do século XIX. Iluminismo, a emancipação da mulher, fim da escravidão, avanço da ciência e da tecnologia. Tempos de muitas descobertas no ramo da microbiologia. Pasteur na França mostra a existência dos microorganismos, e do poder esterilizante do calor. Na Alemanha Robert Koch, consegue visualizá-los com o uso do microscópio. Também Koch, consegue fazê-los crescer isoladamente utilizando meios de cultura na forma de gel com a introdução do Agar Agar. Época de Semmelweiss e de Florence Nightingale, grandes nomes do controle de infecção!
Joseph Lister, em Glasgow, introduz as técnicas de anti-sepsia nos procedimentos cirúrgicos. Ele começa a questionar a teoria miasmática, e entra em contato com as pesquisas de Pasteur e de Crooks que consegue eliminar o cheiro da podridão com o ácido carbólico (fenol). Faz a relação entre uma e outra concluindo que o fenol eliminava os micróbios geradores de putrefação. Lister faz suas primeiras experiências com o fenol, e apresenta o trabalho “Sobre o Princípio Anti-Séptico na Clínica Cirúrgica”. Apesar da resistência de seus pares na Grã-Bretanha, as descobertas de Lister são utilizadas em outros países, como a Alemanha, Suíça e nos Estados Unidos.
Lister preconizava a vaporização de fenol no campo operatório, a lavagem das feridas com a mesma substância, e sua aplicação nas mãos. Os fios de sutura encerados também eram embebidos em fenol. Apesar dos bons resultados, a introdução da técnica trouxe alguns inconvenientes. A vaporização causava tosse e irritação da mucosa ocular, ao passo que a sua aplicação nas mãos provocava vermelhidão e eczema.
Aqui entram os nossos personagens: o eminente cirurgião William Steward Halsted, da Universidade John Hopkings de Baltimore, e Carolina Hampton, que era enfermeira-chefe da sala de operações deste Hospital. O cirurgião encantou-se com a moça. Mas, ela estava prestes a se desligar da função, devido ao intenso eczema desenvolvido ao mergulhar as mãos na solução de formol. Halsted fez de tudo sem obter sucesso, as alterações começam a se disseminar pelos braços de Carolina.
Até que um dia de 1889, o cirurgião encomendou à Goodyear (da Goodyear Rubber Co), a confecção de luvas finas de borracha, com a finalidade de proteger as mãos da amada contra a substância irritante. As luvas eram semelhantes às usadas por anatomistas, porém mais finas, de modo que não atrapalhassem os seus movimentos. As luvas passam a ser esterilizadas com vapor de água. Foi uma vitória para Halsted, pois Carolina permaneceu na sua profissão, casando-se com o cirurgião no ano seguinte, e para a cirurgia, que ganhou as suas primeiras luvas. Bloogood, um assistente de Halsted, propôs que as luvas fossem utilizadas por toda a equipe cirúrgica. Começa a sua popularização!
Uma história de amor e genialidade, ao encontrar soluções para problemas, na infinidade de possibilidades.
Liliana Junqueira de P. Donatelli
Consultora de Biossegurança em Saúde
Bióloga CRB 18469/01-D
Mestre em Saúde Coletiva FMB-UNESP